Novo Gurgel GX1000e elétrico de 1000cv e 1200km de autonomia. Verdade ou boato?

Gurgel GX1000e: O SUV Elétrico dos Sonhos que Acelerou no Dia da Mentira

Quem diria que a Gurgel, aquela marca brasileiríssima que já foi sinônimo de buggies valentes e carrinhos elétricos pioneiros, voltaria à cena em pleno 2025 com um SUV elétrico de tirar o fôlego? Pois é, no último dia 1º de abril, o perfil do Instagram Autotrade soltou a bomba: o Gurgel GX1000e, um monstro de 1.000 cavalos, autonomia de 1.200 km, design assinado por ninguém menos que Elon Musk e – segure essa – um preço de banana de R$ 119.990,00, parcelado em até 360 vezes no boleto, sem juros! Era o retorno triunfal que os amantes do Plasteel e das ideias geniais de João Gurgel sempre sonharam. Ou será que não?

A notícia, que veio acompanhada de emojis empolgados e um tom de “Gurgelzinha não veio pra brincar”, incendiou as redes sociais e tem gente caindo nessa até hoje. Teve gente calculando o IPVA, outros já imaginando o GX1000e desfilando na Avenida Paulista e até quem começou a planejar a troca do Fiat Marea 2001 por esse “novo clássico nacional”. Mas, como diria o filósofo contemporâneo Tiririca, “ô povo, abestado!”. Era tudo uma grande e deliciosa pegadinha de 1º de abril – e que pegadinha bem bolada, hein?

Vamos começar pelo óbvio: a data. Dia 1º de abril é aquele momento do ano em que até o jornal mais sério vira um tabloide de ficção científica. E o pessoal não perdeu a chance de brincar com a nostalgia dos brasileiros que ainda sonham com um carro 100% nacional. Mas, se a data já entrega o jogo, os detalhes do tal GX1000e são o verdadeiro show de comédia – ou de surrealismo, dependendo do seu humor.

Primeiro, 1.000 cavalos de potência num elétrico feito no Brasil? Isso é mais cavalo do que Jockey Club de São Paulo consegue reunir num fim de semana movimentado! Para comparação, o Tesla Model S Plaid, aquele carrão que Elon Musk exibe como troféu, tem pouco mais de 1.000 cv e já é considerado o ápice da engenharia automotiva. Agora imagina a Gurgel, que faliu em 1996 com uma dívida que daria pesadelos a qualquer contador, voltando do além com um carro que humilha a Tesla no quintal de casa. É bonito de sonhar, mas é mais fácil o Corinthians ganhar a Libertadores amanhã.

E a autonomia de 1.200 km? Meu amigo, isso é quase ir de São Paulo a Salvador sem parar pra carregar – e olha que o GX1000e nem vem com um adaptador pra tomada de três pinos! Os melhores elétricos do mundo, como o Lucid Air, mal chegam aos 800 km em condições perfeitas, com motorista pisando leve e ar-condicionado desligado. A Gurgel teria inventado uma bateria mágica em segredo, guardada num galpão empoeirado de São Caetano do Sul? Acredito até que o João Gurgel, lá no céu dos inventores, tenha dado risada dessa.

Agora, o golpe de mestre: “Design assinado por Elon Musk”. Sim, o homem que manda foguete pro espaço, briga com o Twitter e dorme em cima de um Model Y na linha de produção da Tesla teria largado tudo pra desenhar um SUV brasileiro. Imagina o diálogo: “Elon, deixa o Cybertruck de lado, vem ajudar a Gurgel a renascer!”. E ele, com aquele olhar de gênio excêntrico, responde: “Claro, vou pegar meu lápis e minha régua, deixa só eu pousar esse Starship rapidinho”. Tá bom, né? Musk nem sabe onde fica o Brasil no mapa – e, se soubesse, ia querer cobrar em Bitcoin, não em boleto.

Por falar em boleto, o preço de R$ 119.990,00 é o tipo de coisa que faz você desconfiar até da nota de 2 reais que sobrou no bolso. Um SUV elétrico com essa potência e autonomia, mesmo num mundo de fantasia, custaria no mínimo sete dígitos – e olhe lá. Parcelar isso em 360 vezes, ou seja, 30 anos, sem juros? Isso é mais generoso que mãe emprestando dinheiro pro filho comprar videogame. No final das contas, você terminaria de pagar o GX1000e em 2055, quando os netos já estariam pilotando drones da BYD na garagem.

E o “bônus de fábrica pagando FIPE no seu usado”? Quem já tentou vender um carro sabe que FIPE é só um sonho distante na concessionária. Imagina a Gurgel, que nem fábrica tem mais, oferecendo isso como quem dá bala de troco no mercadinho. É o tipo de promessa que até o mais ingênuo dos compradores olharia torto.

A verdade é que a Gurgel Motores S/A, essa lenda dos anos 70 e 80, não voltou – pelo menos não ainda. A empresa, que nos deu o Xavante, o BR-800 e os elétricos Itaipu, sucumbiu à crise financeira e à concorrência estrangeira nos anos 90. O GX1000e é só uma brincadeira nostálgica, uma homenagem bem-humorada a uma marca que marcou época com fibra de vidro e ideias malucas. O texto do Autotrade acertou em cheio no tom: exagerou o suficiente pra fazer rir, mas deixou aquele gostinho de “e se fosse verdade?”.

Então, podemos esquecer do boleto e do sonho de ver o GX1000e na garagem. Mas fica a dica: se algum dia a Gurgel voltar de verdade, tomara que venha com um carrinho elétrico que honre o legado do João Gurgel – quem sabe um GX100e, com 100 cavalos e uns 200 km de autonomia? Aí sim, eu boto fé. Até lá, feliz Dia da Mentira atrasado – e cuidado com o próximo 1º de abril!

Imagem: suposto Gurgel GX1000e. Reprodução/Instagram Autotrade

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