A invasão dos carros chineses no Brasil. Por que vendem tanto?

O que está por trás do grande número de carros chineses presentes no Brasil.

Nos últimos anos, o mercado automotivo brasileiro passou por uma transformação significativa com a chegada massiva de marcas chinesas. Com investimentos bilionários, foco em eletrificação e estratégias agressivas de preço e tecnologia, fabricantes como BYD, GWM, JAC Motors, Chery, Zeekr, Neta e outras estão redefinindo o panorama automotivo no país.

Em 2025, o Brasil já conta com cerca de 12 marcas chinesas em operação, e a expectativa é que esse número chegue a 16 até o final do ano, consolidando o país como um dos principais destinos globais para essas montadoras. Este artigo explora a ascensão dos carros chineses no Brasil, os modelos que estão conquistando o mercado, os desafios enfrentados e o impacto dessa “invasão” na indústria nacional.

O Contexto da Chegada das Marcas Chinesas

A presença de montadoras chinesas no Brasil não é exatamente uma novidade. Há cerca de 15 anos, marcas como JAC Motors e Chery desembarcaram no país com propostas de veículos acessíveis, mas enfrentaram dificuldades devido à percepção de baixa qualidade e à falta de infraestrutura de pós-venda.

No entanto, a nova onda de fabricantes chinesas, iniciada por volta de 2022, é bem diferente: empresas chegam com produtos altamente tecnológicos, focados em veículos elétricos e híbridos, além de estratégias robustas de marketing e produção local.

  • A China, hoje o maior mercado automotivo do mundo, enfrenta uma guerra de preços em seu mercado interno e busca expansão em mercados emergentes como o Brasil.
  • A América do Norte e a Europa impõem barreiras tarifárias aos veículos chineses, tornando o Brasil um destino atrativo devido à economia em crescimento, incentivos (ainda que reduzidos) à eletrificação e demanda por opções mais sustentáveis.
  • Segundo a Anfavea, as importações de carros chineses atingiram 134.582 unidades no primeiro semestre de 2025, um aumento de 3,6% em relação ao mesmo período de 2024, representando 62,1% do total de veículos importados para o Brasil.

Principais Marcas e Modelos no Mercado Brasileiro

BYD: A Líder da Eletrificação

A BYD (Build Your Dreams) é a protagonista dessa nova onda. Presente no Brasil desde 2015, inicialmente focada em ônibus elétricos, passou a investir fortemente em carros de passeio a partir de 2021.

  • Modelos de destaque: BYD Dolphin, Song Plus e o Dolphin Mini (anteriormente Seagull), lançado em 2024 como o elétrico mais barato do Brasil (cerca de R$ 130 mil).
  • Em 2024, a BYD vendeu 58.456 veículos no Brasil, alcançando o 10º lugar no ranking de vendas (Fenabrave).
  • Produção local: fábrica em Camaçari (BA), já produzindo o Dolphin Mini e o Song Pro em fase de testes.
  • Polêmicas recentes envolveram condições de trabalho, mas a operação da BYD é um marco para os chineses no Brasil.

GWM: Foco em Híbridos e SUVs

A Great Wall Motors (GWM) tem conquistado espaço com SUVs híbridos e elétricos desde 2022.

  • Previsão: produção local em Iracemápolis (SP) em 2025.
  • Modelos: Haval H6 (carro-chefe), Tank 300 (SUV off-road híbrido de 351 cv), Wey 05 (segmento premium), Ora 03 (compacto elétrico), e Tank 700.

Chery e Submarcas: Omoda e Jaecoo

A Chery, em parceria com a Caoa, é a única marca chinesa que já produz veículos no Brasil (Anápolis, GO).

  • Em 2024, a joint-venture Caoa Chery emplacou cerca de 50 mil veículos.
  • Destaques: linha Tiggo, Omoda 5 (tecnológico para público jovem), Jaecoo J7 e J9 (SUVs premium).

JAC Motors: Retorno aos Motores a Combustão

A JAC Motors, pioneira na chegada ao Brasil, passou por altos e baixos.

  • Após uma fase focada em elétricos (E-JS1 e E-J7), anunciou em 2024 o retorno aos veículos a combustão com a picape Hunter T9 (versões diesel e elétrica).
  • Planeja lançar o E-JS3, compacto elétrico.

Novatas: Zeekr, Neta, Leapmotor e GAC

Marcas como Zeekr (grupo Geely), Neta, Leapmotor e GAC são as mais recentes no Brasil.

  • Zeekr aposta no segmento premium (Zeekr 001 e Zeekr X).
  • Neta foca em veículos acessíveis (Neta Aya e Neta X).
  • Leapmotor, em parceria com a Stellantis, trará T03 e C10 em 2025.
  • GAC Motor iniciou operações em maio de 2025, aposta em SUVs como GS3 e planeja eletrificação futura, investindo US$ 1 bilhão e construindo fábrica em parceria com a Mitsubishi.

JMEV: Inovação para Autoescolas

A JMEV lançou o EV3, carro elétrico com câmbio manual simulado para autoescolas, produzido em Jaguaré (ES) e com preço abaixo de R$ 100 mil.

Desafios e Oportunidades

Apesar do sucesso inicial, as marcas chinesas enfrentam desafios:

  • Retomada do imposto de importação de 35% sobre veículos elétricos e híbridos desde 2024, elevando preços e reduzindo competitividade.
  • Infraestrutura de recarga ainda limitada.
  • Percepção de qualidade ainda é obstáculo para marcas menos conhecidas.

Por outro lado, há vantagens evidentes:

  • Veículos com tecnologia de ponta, sistemas avançados de assistência ao motorista, conectividade e acabamento premium a preços acessíveis.
  • Produção local tende a reduzir custos e gerar empregos.
  • Alinhamento com a demanda crescente por sustentabilidade.

Impacto na Indústria Nacional

A chegada dos carros chineses gera preocupação entre fabricantes tradicionais:

  • Estoques de veículos chineses superaram as vendas de 2024, com 81.700 unidades em portos e concessionárias até agosto.
  • Possível pressão para promoções agressivas e impacto nos preços e competitividade das marcas locais.
  • Aquisição de fábricas da Ford e Mercedes-Benz por BYD e GWM sinaliza reestruturação do setor.

Mas também há benefícios:

  • Concorrência força inovação e redução de preços.
  • Investimentos em fábricas e centros de pesquisa impulsionam a economia.

O Futuro dos Carros Chineses no Brasil

Com a consolidação de marcas como BYD, GWM e Chery, além da chegada de Zeekr, Neta e GAC, o Brasil se posiciona como polo estratégico para montadoras chinesas. A previsão é que, até 2030, essas marcas capturem fatia significativa do mercado, principalmente no segmento de veículos eletrificados.

A combinação de preços competitivos, tecnologia avançada e investimentos locais indica que os carros chineses vieram para ficar, transformando o Brasil em um dos palcos centrais da revolução automotiva global.

Imagem: carro com as cores da bandeira da China numa rua brasileira. Gerada por IA.

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