O mercado automotivo brasileiro, em 2024, surpreendeu novamente. Até agosto, mais de 10 milhões de veículos usados foram vendidos no país, de acordo com dados da FENAUTO (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores) e da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Este número impressionante não só reflete o dinamismo do setor, mas também revela tendências e desafios econômicos que explicam o crescimento exponencial das transações de carros usados no Brasil.
A principal razão para o crescimento nas vendas de veículos usados no Brasil é o alto custo dos veículos novos. Nos últimos anos, a combinação de fatores econômicos, como a inflação e as elevadas taxas de juros, tem feito com que os consumidores optem por alternativas mais acessíveis, levando o mercado de segunda mão a crescer continuamente. Modelos de entrada, como o Fiat Mobi e o Renault Kwid, que eram vistos como opções econômicas entre os carros novos, passaram a ser negociados por valores que ultrapassam os R$ 70 mil.
Esse encarecimento dos veículos novos tem uma explicação simples: os custos de produção e os impostos elevados, que se somam a uma crise global de insumos, como semicondutores, que já afetou a indústria automobilística nos últimos anos. Com isso, muitas pessoas que antes trocariam de carro a cada três ou quatro anos estão agora preferindo adquirir veículos usados, que ainda oferecem qualidade a preços mais acessíveis, mesmo que com alguns anos de uso.
Para se ter uma ideia do quanto os carros subiram, o Kwid foi lançado em 2017 por R$ 29.900. Tanto Kwid quanto Mobi custavam pouco menos de R$ 40 mil, zero km, em 2021. Hoje, a tabela Fipe desses carros, usados, está acima do preço que custavam quando novos.
Os dados mostram que, até agosto de 2024, foram comercializados 10,2 milhões de veículos usados, representando um crescimento de 8,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse avanço destaca uma recuperação do setor, que sofreu durante a pandemia, mas que agora se consolidou como uma alternativa robusta diante das dificuldades de adquirir um carro novo. Inclusive, o mercado de usados superou as vendas de veículos novos em mais de três vezes, com 3 milhões de carros novos emplacados no mesmo período.
Apesar de uma leve queda de 2,7% nas vendas em agosto de 2024 comparado a julho, o mercado manteve um ritmo de crescimento. As vendas diárias registraram um aumento de 1,7%, sinalizando que, mesmo em um mês com um dia útil a menos, a demanda por veículos de segunda mão continuou aquecida.
Por trás dos números positivos, existem desafios que não podem ser ignorados. A idade média dos veículos usados que circulam pelas ruas brasileiras tem aumentado, o que pode ser um problema para a segurança e o meio ambiente. Estima-se que um terço dos carros vendidos em 2024 tenha mais de 13 anos de uso, e seis dos dez modelos mais comercializados já estão fora de linha. Isso significa que o consumidor está, em muitos casos, comprando veículos que podem não contar com a mesma tecnologia ou nível de segurança dos carros novos.
Além disso, o giro rápido de estoques nas concessionárias de veículos usados tem contribuído para a elevação dos preços. Com a alta demanda e a necessidade de repor estoques com rapidez, as lojas acabam pagando mais caro pelos carros e, consequentemente, repassam esse aumento ao consumidor final. Um exemplo disso é o aumento no preço de veículos seminovos, que muitas vezes chegam a valores próximos de carros novos de entrada.
A expectativa para o fechamento do ano é de continuidade no crescimento das vendas. A FENAUTO prevê que, até dezembro, o Brasil deverá atingir um total de 15,5 milhões de veículos usados comercializados. Esse otimismo é sustentado pelo fato de que, mesmo com possíveis impactos das eleições municipais em outubro, o mercado de usados tem se mostrado resiliente.
O presidente da FENAUTO, Enilson Sales, acredita que o setor ainda pode sofrer algumas variações nos últimos meses do ano, mas nada que vá impedir o fechamento em alta. Segundo ele, a tendência é de que a procura por carros usados se mantenha firme, principalmente pela dificuldade de adquirir veículos novos em um cenário de juros altos e crédito restrito.
Entre os modelos de carros usados mais vendidos em 2024, destacam-se velhos conhecidos do consumidor brasileiro. O Volkswagen Gol lidera com folga as vendas, seguido pelo Fiat Uno e o Fiat Palio, todos carros que já deixaram de ser produzidos, mas continuam a ser muito procurados no mercado de segunda mão. No segmento de comerciais leves, a Fiat Strada e a Volkswagen Saveiro continuam como as opções preferidas dos compradores, especialmente para uso profissional.
Já no mercado de motocicletas, a Honda CG150 se mantém como a líder absoluta, seguida pela Honda Biz e pela CG125. Esse segmento também apresentou um crescimento expressivo nas vendas em 2024, reforçando a busca por meios de transporte mais econômicos e eficientes, em meio à alta dos combustíveis e ao trânsito caótico das grandes cidades.
O mercado de carros usados no Brasil atingiu um marco significativo em 2024, superando a marca de 10 milhões de unidades vendidas até agosto. Esse desempenho reflete não só a preferência crescente dos consumidores por veículos de segunda mão, mas também os desafios econômicos que tornam o carro novo inacessível para muitas pessoas. A previsão é de que esse mercado continue aquecido até o final do ano, com potencial para bater recordes. No entanto, o aumento na idade da frota e os preços elevados dos seminovos apontam para a necessidade de soluções de longo prazo que tornem o acesso ao carro mais sustentável e equilibrado para os consumidores brasileiros.
Imagem: escrita, em giz, imitando aquela praticada em lojas de carros, em tom de brincadeira quanto ao preço do carro usado e do novo. Gerada por IA.
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